SECRETARIA
DO TRIBUNAL PLENO, ÓRGÃO ESPECIAL E SEÇÕES
ESPECIALIZADAS
ATA
DA SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM À POSSE DO EXMO. SR.
DESEMBARGADOR JÚDICE NETO, REALIZADA NO DIA DEZESSETE DO MÊS
DE AGOSTO DO ANO DE DOIS MIL E VINTE E TRÊS.
Aos dezessete dias do mês
de agosto do ano de dois mil e vinte e três, às
dezesseis horas e quinze minutos, foi aberta a sessão solene
em homenagem à posse do Desembargador Federal Júdice
Neto. Presentes,
os Exmos. Srs.
Desembargadores Federais Guilherme Calmon (Presidente), Aluisio
Mendes (Vice-Presidente), Sergio
Schwaitzer, Luiz Antonio Soares,
Ferreira Neves,
Marcus Abraham,
Ricardo
Perlingeiro, Simone Schreiber, Alcides Martins, Theophilo Miguel,
Flávio Lucas, Carmen Silvia Lima de Arruda, Firly Nascimento
Filho, Andréa Cunha Esmeraldo, Wanderley Sanan Dantas, Júdice
Neto e o Juiz Federal Convocado Rogério Tobias de Carvalho.
Ausentes, justificadamente, os Desembargadores Federais Vera Lúcia
Lima,
Poul Erik
Dyrlund, André Fontes, Reis Friede, Guilherme Couto de Castro,
Luiz Paulo Araújo, Guilherme Diefenthaeler, Marcelo
Pereira da Silva,
Cláudia Neiva,
Leticia De
Santis Mello (Corregedora Regional), Marcello
Granado,
William Douglas, Mauro Braga, Paulo Pereira Leite Filho e Alberto
Nogueira Júnior. Licenciado, o Desembargador Federal José
Antonio Neiva.
SRA.
CERIMONIALISTA:
Integram a Mesa Diretora e a Mesa Diretora Estendida as seguintes
autoridades: Compõem a Mesa Diretora os Excelentíssimos
Senhores Ministro Messod Azulay Neto, do Superior Tribunal de
Justiça; Doutor Cláudio Castro, Governador do Estado do
Rio de Janeiro; Doutor Renato Casagrande, Governador do Estado do
Espírito Santo; Doutor Artur Gueiros, Procurador-Chefe da
Procuradoria Regional da República da 2ª Região;
Doutor Luiz Fernando Bandeira de Mello, Conselheiro do Conselho
Nacional de Justiça; Desembargador Federal Fernando Quadros da
Silva, Presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região;
Desembargador Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Presidente
do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Compõem
a extensão da Mesa as seguintes autoridades: Doutor Ricardo de
Rezende Ferraço, Vice-Governador e Secretário de Estado
de Desenvolvimento do Espírito Santo; Excelentíssima
Senhora Juíza Federal Marceli Maria Carvalho Siqueira,
Diretora da Associação dos Juízes Federais do
Rio de Janeiro e Espírito Santo; Doutor Bruno Teixeira Dubeux,
Procurador-Geral do Estado do Rio de Janeiro, Doutor Jasson Hibner
Amaral, Procurador-Geral do Estado do Espírito Santo;
Excelentíssimo Senhor General de Brigada Ernesto de Lima Gil,
representando o Comandante Militar do Leste; Doutor Flávio de
Araújo Willeman, Subprocurador-Geral do Estado do Rio de
Janeiro; Deputado Federal Josias Mário da Vitória;
Deputado Estadual Tyago Hoffmann, representando o Presidente da
Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo; Doutor
Lívio Oliveira Ramalho, Corregedor-Geral da Procuradoria-Geral
do Estado do Espírito Santo; Doutor Alexandre Nogueira Alves,
Procurador-Chefe da Escola Superior da Procuradoria-Geral do Estado
do Espírito Santo; Doutor José Carlos Rizk Filho,
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Espírito Santo.
SR. CERIMONIALISTA:
Registramos também
a presença dos Desembargadores Federais do Tribunal Regional
Federal da 2ª Região, os Magistrados de ontem, de hoje e
de sempre, autoridades do Poder Judiciário, do Poder Executivo
e do Poder Legislativo e dos ilustres familiares e convidados do
Desembargador Federal Júdice Neto. SRA.
CERIMONIALISTA: O
Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal Guilherme Calmon
Nogueira da Gama, Presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª
Região, realizará a abertura desta sessão
solene. O EXMO. SR.
PRESIDENTE, DESEMBARGADOR FEDERAL GUILHERME CALMON: Boa
tarde a todos e a todas. Declaro aberta a sessão solene em
homenagem à posse do Excelentíssimo Senhor
Desembargador Federal Júdice Neto. SR.
CERIMONIALISTA: Convidamos
os presentes a cantarem o Hino Nacional – letra de Joaquim
Osório Duque Estrada e música de Francisco Manuel da
Silva. (Execução do Hino Nacional Brasileiro). SRA.
CERIMONIALISTA:
Convidamos o Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal
Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Presidente desta Corte, e o
Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal Júdice Neto
para ocuparem seus lugares no dispositivo de onde será
reiterado o compromisso legal. O
EXMO. SR. PRESIDENTE,
DESEMBARGADOR FEDERAL GUILHERME CALMON:
Solicito ao Desembargador Federal Júdice Neto que proceda à
leitura do compromisso legal. O
EXMO. DESEMBARGADOR FEDERAL JÚDICE NETO:
“Eu, Júdice Neto, reitero o compromisso prestado na
Presidência deste Tribunal em 21 de junho de 2023, na presença
do Excelentíssimo Senhor Presidente, de desempenhar com
retidão as funções do cargo de Desembargador
Federal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região
cumprindo a Constituição e as leis deste País.”
O
EXMO. SR. PRESIDENTE,
DESEMBARGADOR FEDERAL GUILHERME CALMON:
Aceito a reiteração do compromisso ora prestado pelo
Desembargador Federal Júdice Neto no cargo de Desembargador
Federal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. SRA.
CERIMONIALISTA: Neste
momento, será prestada homenagem à família do
novo Desembargador Federal. A senhora Flávia Júdice,
esposa do Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal Júdice
Neto, receberá um buquê de flores. SRA.
CERIMONIALISTA: O
Ilustríssimo Doutor Marcelo Abelha Rodrigues, Conselheiro da
Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional do Espírito Santo,
fará homenagem ao Desembargador Federal Júdice Neto.
DR. MARCELO ABELHA
RODRIGUES (Conselheiro da OAB- Seccional Espírito Santo):
Boa tarde a todos! Excelentíssimo Ministro Messod Azulay Neto,
do Superior Tribunal de Justiça, oriundo desta digna Casa;
Excelentíssimo Governador Cláudio Castro;
Excelentíssimo Governador José Renato Casagrande;
Excelentíssimo Doutor Artur Gueiros, Procurador-Chefe da
Procuradoria Regional da República da 2ª Região;
Excelentíssimo Doutor Luiz Fernando Bandeira de Mello,
Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça; Excelentíssimo
Desembargador Federal Fernando Quadros da Silva, Presidente do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região; Excelentíssimo
Desembargador Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Presidente
deste egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região,
permitam-me saudar cada um dos Membros desta Corte. Excelentíssimos,
mui digníssimos, Vice-Presidente, meu querido Desembargador
Aluisio Gonçalves de Castro Mendes; Excelentíssima
Corregedora deste egrégio Tribunal, Doutora Leticia De Santis
Mello; a Decana, Desembargadora Vera Lúcia Lima; digníssimo
Desembargador Sergio Schwaitzer; queridíssimo Desembargador
André Fontes; queridíssimo Desembargador Reis Friede;
meu querido colega de faculdade e meu professor Luiz Antonio Soares;
queridíssimo Desembargador Guilherme Couto de Castro;
Desembargador José Antonio Lisbôa Neiva, Desembargador
Federal Ferreira Neves; meu querido colega de Academia, Luiz Paulo da
Silva Araújo; queridíssimo Desembargador Guilherme
Diefenthaeler; Desembargador Marcus Abraham; Desembargador Marcelo
Pereira da Silva; querido Desembargador Ricardo Perlingeiro;
Desembargadora Cláudia Maria Pereira Bastos Neiva;
Desembargadora Simone Schreiber; Desembargador Alcides Martins;
queridíssimo Desembargador Theophilo Miguel; Desembargador
William Douglas; Desembargador Flávio Oliveira; Desembargador
Mauro Souza; Desembargadora Carmen Silvia; Desembargador Paulo
Pereira Leite; Desembargador Firly Nascimento; Desembargador Alberto
Nogueira Júnior; Desembargadora Andréa Cunha Esmeraldo;
Desembargador Wanderley Sanan Dantas, minhas senhoras e meus
senhores. Para o filósofo pré-socrático
Demócrito de Abdera, um dos precursores do determinismo,
segundo ele “as leis causais controlam o movimento dos átomos,
inclusive da mente humana, porque a mente humana é feita de
átomos” – fecho aspas. Aristóteles dizia –
aspas: “todos os eventos se devem a uma causa e, portanto, são
determinados”. Immanuel Kant, na Crítica da Razão
Pura, foi categórico ao dizer que o determinismo era uma
condição necessária para a nossa compreensão
do mundo. Mas não vivemos só de determinismos; existem
os indeterministas; existem aqueles que propagam e são adeptos
do livre arbítrio, e dois dos maiores expoentes do livre
arbítrio – Jean-Paul Sartre e Nietzsche – chegaram
ao ponto de dizer, quase numa mesma frase: “o homem escolhe o
seu caminho, o homem decide o seu caminho”. Independentemente
se nós estamos aqui por sermos deterministas, ou se estamos
aqui pelo livre arbítrio, todos estamos aqui por um único
objetivo: celebrar a posse do Desembargador Júdice Neto. E
antes de eu falar alguma coisa, eu queria que todos aplaudissem o
Júdice Neto. O
EXMO. DR. MARCELO ABELHA RODRIGUES (Conselheiro da OAB- Seccional
Espírito Santo): Quem
é empossado num cargo assume uma situação
jurídica em alguma instituição. Comecemos,
então, pela instituição, por esta Casa, onde
Macário – perdoe-me por não chamar de Júdice
Neto, porque a minha vida inteira era só Macário –
ocupará o cargo de Desembargador Federal. Não obstante
os Tribunais brasileiros possuam a sua condição de
validade e legitimidade na Constituição Federal, com
órgãos integrantes desse engenhoso arcabouço
jurídico do Brasil, dizia Sepúlveda Pertence, que
infelizmente nos deixou recentemente, que a força motriz de um
Tribunal está nos homens e nas mulheres que o integram. É
a partir do compromisso moral e ético com a realização
da justiça de cada um desses membros que se constrói a
credibilidade e o respeito da coletividade por uma instituição
jurídica. Fiz questão de nominar, não por acaso,
cada um desses Membros que ocupam o TRF2 porque eles juntos integram
essa digníssima Corte judiciária do nosso País.
Perdoem-me pelo egoísmo, mas não é por acaso que
o nosso TRF2 possui enorme destaque entre todas as Cortes jurídicas
do País, sendo conhecido e reconhecido como um celeiro, um
ninho de notáveis Juristas, Professores, Magistrados e
Ministros. Eu confesso: sou fã deste Tribunal. E admiro tanto
como advogado militante nesta Corte quanto como Professor que
integrou honradamente muitos cursos e eventos jurídicos aqui
organizados. Nesses quase 30 anos de cátedra e de advocacia,
não houve uma só vez, nem uma só vez que eu não
tenha chegado do Espírito Santo e não tenha sido
recebido de forma cortês, respeitosa, transparente por todos os
Membros deste Tribunal. Desde o bom-dia do vigilante, como aconteceu
hoje, que fica na porta, até o sorriso simpático e
natural dos Membros que integram a Corte assim que você entra
no recinto. Isso faz toda a diferença. Mas ressalto uma coisa:
há dois predicados que me fazem realmente fã desta
Corte. O primeiro deles é a humildade e o respeito por estarem
no topo do poder. Isso para mim é o maior predicado de homens
e mulheres que corporificam este Tribunal e servem de exemplo para
aqueles que aqui trabalham e ganham o seu sustento. Se o nosso chefe
é assim, como os chefiados não serão? A
humildade é o principal predicado. E este TRF tem a exata
noção de que presta um serviço público,
porque ele sabe que o povo é o soberano e o súdito ao
mesmo tempo. Registro que, neste Tribunal, tive a experiência
mais marcante da minha vida como advogado: a experiência de ter
advogado numa causa em que, ao final do julgamento dos embargos
infringentes em matéria penal, que não é a minha
área, do primeiro cliente que chegou ao meu escritório
– e isso 15 anos depois – foi absolvido, o que foi
confirmado pelo STJ e confirmado pelo STF. E, no dia da absolvição,
eu caí em choro no púlpito com os meus clientes, porque
me impressionou que, naquele dia, tudo havia sido lido, tudo havia
sido discutido não apenas pelo Relator, mas por todos os
Membros que integravam aquela sessão de julgamento. Para quem
sabe, embargos infringentes em matéria penal é algo
quase impossível. Naquele dia, eu me tornei um melhor
Advogado, um melhor Jurista e uma melhor pessoa por causa desse
julgamento cujo Relator – ele não se lembra, não
deve se lembrar – era o Ministro Azulay Neto. Tenho uma enorme
admiração pelo Tribunal. Muito bem. Apresentado à
Casa, entrego ao determinismo o motivo de eu ter sido escolhido para
estar aqui de corpo presente representando um monte de gente que
poderia estar no meu lugar com muito mais capacidade, com muito mais
eloquência. Entretanto, de alguma forma, pelo determinismo ou
pelo livre arbítrio, eu estou aqui representando todos os que
estão presentes e os ausentes. E você sabe de quem estou
falando. Eu disse ao Macário, no dia em que eu soube que iria
acontecer o que está acontecendo hoje, no pé do ouvido
dele... Eu escrevi um texto e não te mandei porque eu sei que
você iria chorar. Ele, à semelhança do Sr.
Fernando, sem titubear, disse-me: “Pois você vai dizer no
dia da minha posse”. Eu sou aqui apenas um mensageiro dos
presentes em matéria e em espírito. Macário
nasceu em Cachoeiro, herdou o nome do avô – daí o
“Neto” – e, como o seu avô, também é
um grande e renomado Advogado. Ele se graduou em Direito pela
Universidade Federal do Espírito Santo em 1988 e, desde novo,
com uma carteirinha de estagiário, já atuava ajudando o
seu pai e ajudando o seu avô. Eu conheci o seu pai, o Sr.
Fernando. Macário é quase uma cópia dele: um
homem íntegro, sem rodeios, direto, firme, sincero e
transparente como poucos, com uma oratória ímpar e uma
enorme capacidade de enxergar os problemas por ângulos que
ninguém enxergava. Eu tive a sorte de ser estagiário da
Companhia Vale do Rio Doce e, lá, ter as suas petições,
e me abeberar tão novo dos seus trabalhos. Fernando é,
sem sombra de dúvidas, um dos três maiores nomes de
todos os tempos da Advocacia Capixaba. E não foi só da
Advocacia. Ele tinha uma veia acadêmica, que colocou no seu
filho. Macário foi para a PUC de São Paulo em 1989,
morou num apartamento em frente à Avenida Paulista e, sendo um
filho da PUC, como eu sou, vivenciou intensamente a experiência
acadêmica, formando laços de amizade com inúmeros,
inúmeros, inúmeros professores conhecidos, renomados,
seria até uma descortesia eu citar um e não citar
outros. Professores que hoje são amigos, mais do que
professores: Professor Arakem, Professor Arruda Alvim − que
infelizmente já não está −, Professora
Teresa – mãe −, Professora Teresa – Didi −,
Professor Nelson Nery Júnior, Professor Sérgio Rizzi,
Professor João Batista Lopes, Professor Carlos Alberto Bittar,
Professor José Roberto dos Santos Bedaque, Professor Carlos
Alberto Carmona, Antônio Carlos Marcato, Cândido Rangel
Dinamarco. Tão empolgado estava com o mundo acadêmico
que, no âmbito de sua família, foi fundado o Instituto
de Ensino Abreu Júdice, onde tive o prazer de palestrar e dar
aulas a convite dele, Júdice Neto, e do seu tio Ricardo, que
não vi aqui, mas faço questão de mencionar,
porque ele foi muito importante no instituto naquele momento. Ah,
está ali, Ricardo, que me fez, junto com Macário, o
primeiro convite para poder entrar e palestrar. Dei aulas e palestras
em cursos e eventos com os maiores nomes do cenário jurídico
brasileiro. Naquela época, o Processo Civil fervilhava
pós-Constituição, e isso foi motivo para ele
levar para Vitória, para o primeiro curso de pós-graduação,
junto com a PUC de São Paulo, do qual tive o prazer de também
participar. Nesse cenário de estudo e dedicação
não demorou muito e ele passou para concurso de Juiz Federal,
aos 27 anos. Portanto, com a Judicatura, teve que interromper sua
trajetória acadêmica, que foi concluída com uma
dissertação de mestrado no ano de 2011, na FADISP, de
cuja banca também participei. Macário é, sem
nenhum favor – sem nenhum favor –, um dos juristas mais
estudiosos e pensantes de temas como tutela mandamental, temas como
tutela de urgência, tutela jurisdicional dos direitos reais;
poucas pessoas sabem tanto quanto ele sabe. Eu perdi a conta de
quantas e quantas vezes discutimos; nossa última discussão
era sobre litisconsórcio unitário. Não por acaso
foi a ele que entreguei a minha tese de titularidade de quase 30 anos
da Universidade Federal sobre Responsabilidade Patrimonial. Ele não
só leu, como releu, como anotou, como discutiu e como me
convenceu de algumas coisas. Tornou-se Juiz, mas, por conveniência,
no começo, acabou permanecendo em Vitória, e depois,
com o Doutor Antônio Cruz Neto, acabou assumindo a 3ª Vara
Federal; foi Diretor do Foro, levou a Justiça Federal para São
Mateus e Cachoeiro de Itapemirim. E, minhas senhoras e meus senhores,
deterministas ou indeterministas, destino ou livre arbítrio,
penso que, acima de qualquer fenômeno de causa e efeito, há
Deus em todas as coisas e razões que só Deus explica.
Sábia é a lição de Eclesiastes capítulo
3, versículo 1: “Tudo tem seu tempo determinado, e há
tempo para todo o propósito debaixo do céu.”
Todos sabem que esta não é uma posse como tantas outras
posses que acontecem nos Tribunais do País, sem desmerecer
nenhuma delas. Aqui está um homem que, por 17 anos e meio,
lembrando Jó, teve resiliência, paciência, luta,
coragem, firmeza, obstinação e muita fé de que é
preciso acreditar na verdade e na justiça. Esse intervalo
serviu para moldar uma pessoa que tem sede de dar justiça,
sede de lutar por justiça, sede de ler cada parágrafo
de cada petição, de cada linha de um processo, pois tem
a certeza de que ali há a mazela de vida de um jurisdicionado,
como um dia ele foi. Exatamente por isso, como representante da
classe dos advogados, tenho certeza de que ninguém deixará
de ser ouvido, que ninguém deixará de ser lido e que
tudo será objeto de reflexão. Já caminhando para
o final, quero lhes dizer que nenhum homem, nem Macário Ramos
Júdice Neto, chega onde está chegando neste momento,
depois de um aprendizado de 17 anos e meio, sem um eixo dentro de si
em torno do qual gravita a sua certeza pela justiça. Todos nós
temos um eixo, esse eixo começa com Deus e é ladeado
por pessoas que formam uma teia de proteção, de energia
positiva, de ânimo para acordar dia após dia e seguir
lutando por uma estrada que parecia infinita. Sua vida não
seria a mesma sem seus tios Orlando, Ana Elisa, Maria Helena, Ricardo
e Alzira. Você não seria o que é sem seus irmãos
e meus queridos amigos Luciana, Rodrigo, Tatiana e sua prima Mariane.
Mas Macário não seria Macário sem Ana Rita. É
dela que tudo nasce e floresce. Mãe é a personificação
do amor. Nenhum sentimento supera o amor de uma mãe por um
filho. Posso imaginar toda a felicidade que deve transbordar do
coração. Só uma mãe sabe. Nada se compara
ao amor de mãe. E você, Macário, como pai que é,
certamente não teria energia e coragem para erguer-se e lutar
como lutou, para estar onde está se não tivesse o apoio
de suas filhas. Lágrimas e sorrisos de filhos têm poder
de cura e são combustíveis insaciáveis para
qualquer batalha. Certamente que, guiado pelo amor inquebrantável
que dá e recebe de Carolina e Fernanda, qualquer caminho, por
mais árduo que seja, seria possível. Além dessa
teia familiar insubstituível, há ainda alguém
que dorme e acorda com você, que se reparte com você, que
se doa sem receio, que o encontra nos piores e melhores momentos, que
é o seu para-raios, que vai cuidar de você e você
vai cuidar dela quando ficarem velhinhos: sua esposa Flávia,
que está bem aqui na minha frente. Chegando realmente ao
final, eu não poderia deixar de dizer que, nessa caminhada de
17 anos e meio de luta e sofrimento, sem qualquer resquício de
amargura; antes o contrário, porque eu o conheço e sei
o quanto você está transbordando de alegria e
felicidade, e disposto a dar o seu melhor, o que há de melhor
em você para o Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Só que ainda preciso fazer menção a seu pai,
Fernando – perdoem-me –, que, definitivamente, está
aqui neste momento e nesta solenidade. Nós somos energia pura.
Nós não somos matéria. Somos espírito e
não corpo, somos luz e, certamente, Fernando está aqui,
usando de mim para lhe dizer que está muito orgulhoso de você,
e que tem um recado que ouso transmitir a você como se fosse
ele em viva voz: seja feliz, meu filho! Você merece! Obrigado.
SR. CERIMONIALISTA: O
Excelentíssimo Senhor Procurador-Chefe da Procuradoria
Regional da República da 2ª Região, Doutor Artur
Gueiros, fará uma homenagem ao Desembargador Federal Júdice
Neto. DR. ARTUR
GUEIROS: Boa tarde aos
presentes. Eu gostaria de iniciar parabenizando o orador que me
precedeu, o Excelentíssimo Conselheiro da OAB do Espírito
Santo, Doutor Marcelo Abelha Rodrigues. Gostaria também de
cumprimentar o Presidente do egrégio Tribunal Regional Federal
da 2ª Região, Desembargador Guilherme Calmon Nogueira da
Gama; o Excelentíssimo Governador do Estado do Rio de Janeiro
e Chanceler da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Doutor
Cláudio Castro; Sua Excelência o Excelentíssimo
Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Doutor Messod Azulay
Neto; Sua Excelência o Excelentíssimo Governador do
Estado do Espírito Santo, Doutor Renato Casagrande; o
Excelentíssimo Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça,
Doutor Luiz Fernando Bandeira de Mello; o Excelentíssimo
Presidente do egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, Doutor Fernando Quadros da Silva; os Excelentíssimos
Desembargadores e as Excelentíssimas Desembargadoras Federais
que compõem este egrégio Tribunal, as Magistradas e
Magistrados, Representantes do Ministério Público,
colegas do Ministério Público Federal e do Ministério
Público Estadual, as autoridades civis e militares, os
advogados, as advogadas, o público, os familiares, bem assim
aqueles que assistem a esta transmissão através do
canal do TRF da 2ª Região e, por último, mas não
menos importante, Sua Excelência o Excelentíssimo
Desembargador Júdice Neto. Estou aqui em nome do
Excelentíssimo Procurador-Geral da República, Doutor
Antônio Augusto Brandão de Aras. Recebi dele a
incumbência de 14arabeniza-lo
nesta solenidade e também estou aqui em nome dos demais
integrantes da minha instituição, o Ministério
Público Federal, Subprocuradores-Gerais da República,
Procuradores Regionais da República e Procuradores da
República que atuam não somente nesta Região,
mas também em todo o território nacional. Recentemente,
tive a honra de presidir o Curso de Ingresso e Vitaliciamento dos
novos membros do Ministério Público Federal, 36 novos
colegas que acabaram de ingressar. Estive à frente dessa
atividade extremamente intensa, em que, ao lado de todo o cabedal
jurídico que os novos colegas receberam, coube-me coordenar um
contato, uma aclimatação, um conhecimento de aspectos
práticos que serão de extrema valia para esses novos
colegas. Essa atividade renovou, na minha pessoa, esse importante
espírito que existe, um espírito institucional de
atuação em prol da sociedade por intermédio da
instituição que integro. Certamente, Sua Excelência,
o Doutor Júdice Neto, imbuído de igual espírito,
quiçá muito mais elevado, possa, ao longo da sua
profícua atividade jurisdicional neste egrégio
Tribunal, trazer também esse componente pessoal, esse
componente da experiência de Sua Excelência, da vivência
de Sua Excelência, que, consequentemente, com toda a discussão
a ser travada no âmbito do colegiado no qual Sua Excelência
irá atuar, possa contribuir para o aprimoramento, sempre
necessário, pois há sempre a necessidade de
atualização, de mudanças, de orientações,
o que é natural de um direito vivo, o qual é objeto da
prática jurisdicional, e que, dessa forma, ao lado dos colegas
da minha instituição, o Ministério Público
Federal, ao lado dos Excelentíssimos colegas da Ordem dos
Advogados do Brasil, seja nas sessões respectivas, seja no
âmbito da OAB Nacional, possa, dessa maneira, trazer decisões
sábias, decisões justas, decisões que reflitam o
melhor direito, e que tais decisões, sendo aplicadas, sendo
objeto de execução, consoante devidamente o trâmite
de cada rito, de cada processo, possa trazer a tão deseja, a
tão necessária justiça; justiça em
sentido material, justiça em sentido espiritual e justiça
em sentido humano dessa palavra, trazendo pacificações
para os jurisdicionados, contribuindo, consequentemente, para um
desenvolvimento, para um aprimoramento, para que o nosso País
possa prosseguir dentro de um espírito de um estado
democrático de direito ao qual ele se subsome. Muito obrigado,
Excelência, pela oportunidade. Desejo novamente muito sucesso,
muito êxito a Sua Excelência. Parabenizo, também,
mais uma vez, os seus familiares, que certamente também estão
orgulhosos com esse momento tão especial da carreira de Sua
Excelência. Meus parabéns! SRA.
CERIMONIALISTA: A
Excelentíssima Senhora Desembargadora Federal Simone Schreiber
fará uma homenagem ao Desembargador Federal Júdice Neto
em nome desta Corte. A
EXMA. DESEMBARGADORA FEDERAL SIMONE SCHREIBER: Depois
do discurso do Professor Marcelo Abelha, não sei nem o que
dizer. Estou impactada. Foi muito emocionante e quero parabeniza-lo.
Começo cumprimentando o Governador Cláudio Castro, o
Governador José Renato Casagrande, agradecendo a presença
no nosso Tribunal; o Doutor Luciano Bandeira, Presidente da OAB do
Rio de Janeiro, e o Doutor José Carlos Rizk Filho, Presidente
da OAB do Espírito Santo; o Doutor Arthur Gueiros,
Procurador-Geral da República; o Ministro Messod Azulay, meu
querido amigo, de quem eu sinto muita falta, e cumprimento todas as
demais autoridades na pessoa do nosso Presidente Guilherme Calmon
Nogueira da Gama. Vou ler este discurso, apesar de muitas referências
aqui já terem sido feitas pelo Doutor Marcelo Abelha, mas foi
um discurso escrito a quatro mãos: por mim e pela Doutora
Luciana Júdice, irmã do nosso homenageado. Macário
Ramos Júdice Neto é nascido em Cachoeiro de Itapemirim,
no Espírito Santo, terra famosa pelos seus filhos ilustres,
como Roberto Carlos e Rubem Braga, em 21 de janeiro de 1966. É
o terceiro de quatro filhos de Fernando de Abreu Júdice e
Ana Rita Marques Júdice. Tem duas irmãs: a advogada
Luciana e a cirurgião dentista Tatiana, e um irmão:
Rodrigo, advogado e Procurador do Estado. Logo aos dois anos de
idade, junto com a sua família, mudou-se para Vitória,
capital do Estado, tendo em vista que o seu pai foi aprovado, em
primeiro lugar, em concurso para advogado da Companhia Vale do Rio
Doce. Foi criado no bairro residencial da capital Bento Ferreira,
onde cresceu feliz, cercado de crianças e adolescentes,
fazendo um rol enorme de amizades. Sempre foi muito carismático,
possuindo enorme capacidade de comunicação já em
tenra idade. A residência onde viveu boa parte da sua infância
e adolescência era literalmente aberta aos parentes e amigos,
banhada por alegria e contagiada por brincadeiras, tendo como maestra
dessa efervescente vida sua amada mãe Ana Rita, sempre
disposta a acolher a todos. Dela herdou inúmeros traços
físicos, principalmente seus olhos verdes e, acima de tudo,
sua perseverança. Estudou inicialmente no Colégio Santa
Bárbara e, depois, no aclamado Colégio Sagrado Coração
de Maria. Na adolescência, optou por seguir o percurso
profissionalizante da Escola Técnica Federal, onde cursou
Mecânica, tempos de muitos ensinamentos, oportunidade em que
conviveu com diversas classes sociais, aprendendo além do que
o universo das escolas particulares pode oferecer; mas, na hora de
prestar vestibular, falou mais alto a vocação e os ares
familiares respirados desde a infância que o influenciaram a
escolher uma carreira jurídica. Assim, prestou vestibular para
Direito na Universidade Federal do Estado do Espírito Santo.
Foi brilhante aluno, logo se destacando pela capacidade argumentativa
e conexão das ideias, chamando a atenção dos
professores pela sua inteligência. Pertence a uma família
de juristas com tradições históricas que
começaram nos idos de 1930 com o seu avô Macário
Ramos Júdice, advogado renomado no Sul do Espírito
Santo, com quem inclusive teve a oportunidade de advogar, ainda que
por pouco tempo, fazendo audiências na sua cidade natal;
experiência que com certeza guarda no seu coração
até os dias de hoje, fruto da reverência que nutria por
aquele homem introspectivo e extremamente correto, cujo nome carrega
com muito orgulho. Advogou também com o seu amado pai Fernando
de Abreu Júdice, o seu grande mestre e exemplo de vida. Foi
seu aluno na universidade, assim como a sua irmã Luciana. Após
se formar, cursou mestrado em São Paulo, na Pontifícia
Universidade Católica, tenho sido aluno de eméritos
professores, tais como Teresa Arruda Alvim, Eduardo Arruda Alvim,
Nelson Luiz Pinto, Nelson Nery Júnior e tantos outros com quem
construiu laços de amizade. Acabou obtendo o título de
Mestre em Direito na Faculdade Autônoma de Direito de São
Paulo (FADISP), tendo sido orientado pelo Prof. Dr. Eduardo Arruda
Alvim. Foi professor da Escola da Magistratura do Estado do Espírito
Santo, da Escola da Magistratura do Trabalho do Espírito
Santo, do Instituto Abreu Júdice e da Consultime, onde também
foi coordenador técnico, trazendo para as terras capixabas
inúmeros cursos de Processo Civil. Após três anos
de Mestrado na PUC de São Paulo, em 1992, volta a morar em
Vitória, assumindo o cargo de Assessor Jurídico da
Corregedoria-Geral de Justiça, a convite do seu tio, o
Desembargador Renato de Matos, outro grande influenciador da sua
trajetória profissional. Poucos sabem, mas também
prestou vestibular para Educação Física, tendo
cursado um ano, sendo um apaixonado, desde a adolescência, por
esportes. É um entusiasta e curioso pela música, algo
que o distrai e o mantém sereno para superar o estresse do dia
a dia. Macário é pai de duas filhas lindas que são
a paixão da sua vida: Carolina, advogada, e Fernanda,
estudante de Medicina. Dizem que com Carol aprende a cada dia a
encontrar um pouco mais de espiritualidade, fruto da sua enorme
capacidade e sensibilidade para entender o outro. Falam também
que com a Fernanda aprimora o exercício da sinceridade, haja
vista seu espírito inquietante e senso de justiça. Duas
herdeiras, cada qual com as suas características, que fazem
parte do recôndito amoroso de seu coração. É
casado com Flávia Ferraço, sua companheira, que, ao
longo das últimas jornadas, o acompanha, dando-lhe força
e alegria. O Doutor Macário Ramos Júdice Neto foi
aprovado no 2º Concurso para Juiz Federal Substituto no âmbito
deste Tribunal Regional Federal e tomou posse em março de
1993. Eu e a maioria dos Desembargadores que integram hoje este
Tribunal somos colegas de concurso do Doutor Macário. Somos
Juízes há 30 anos, portanto. Quando ingressamos na
Justiça Federal, estávamos em uma quadra da história
muito rica e instigante. Depois de 20 anos de ditadura civil-militar,
nosso País recém refundava sua democracia, promulgando
uma nova Constituição. A Constituição de
1988, fruto de um processo riquíssimo, democrático, com
ampla participação de todos os segmentos da sociedade
civil organizada, estava vigendo há menos de cinco anos quando
nos tornamos Juízes Federais. Caberia a nós, jovens
Juízes, a responsabilidade de interpretar e concretizar os
direitos assegurados na Carta Cidadã; uma Constituição
que consagrou tão generosamente direitos individuais, sociais
e coletivos da população brasileira. Uma carta de
direitos amplíssima, que assegurava minuciosamente as
garantias do devido processo legal, a inafastabilidade do acesso à
Justiça, um Poder Judiciário com autonomia e estrutura
para cumprir o papel que lhe compete em um estado democrático.
Uma Carta que assegurou direitos trabalhistas basilares, direitos
sociais, direito à seguridade e previdência social, à
saúde, à educação, à proteção
de todas as famílias, direito à dignidade humana,
direito ao meio ambiente equilibrado, à reforma agrária,
à atividade econômica orientada pela livre iniciativa,
mas também pelo fim social da propriedade. Direito ao respeito
às instituições democráticas, respeito a
uma sociedade livre, plural, igualitária e não
violenta. Uma Constituição Federal que traz tantas
promessas e que depende de pessoas para que seja efetivado seu
potencial transformador. Dentre muitos outros atores imprescindíveis
para concretizá-la, estamos nós, Juízes e
Juízas. Há 30 anos estamos aqui, Juízes
aprovados no 2º Concurso do Tribunal Regional Federal da 2ª
região. Estamos cumprindo nosso papel? Estamos contribuindo
para a construção de uma sociedade justa, solidária
e democrática? Creio que essa é uma pergunta que
devemos nos colocar todos os dias.
O Professor Marcelo Abelha
elogiou muito o nosso Tribunal, e agradeço pela parte que me
toca. Acredito que haja muito esforço para que seja feita
justiça todos os dias, mas eu queria pontuar o seguinte: o
Desembargador Macário Ramos Júdice Neto, nosso
homenageado, foi acusado da prática de ilícitos no ano
de 2005. Foram ajuizados contra ele uma ação penal e um
procedimento administrativo disciplinar. Anos depois, quando foi
absolvido na seara criminal, o Ministério Público
Federal ajuizou contra ele uma ação de improbidade
administrativa pelos mesmíssimos fatos. Em decorrência
disso, ele ficou afastado da jurisdição por longos 17
anos, até que todos os procedimentos fossem encerrados sem que
a prática de qualquer ilícito fosse provada. O Doutor
Macário sofreu uma grave injustiça. Eu atuei nesses
processos quando me tornei Desembargadora. Examinei a ação
penal e o procedimento administrativo disciplinar de forma meticulosa
e quero afirmar aqui, categoricamente, com toda a experiência
que tenho acumulada de 30 anos de Magistratura Federal: todas as
acusações formuladas contra o Doutor Macário
eram absolutamente inconsistentes. A denúncia oferecida contra
ele era inepta, não continha imputação clara.
Para além de apontar decisões judiciais proferidas por
ele com as quais o Ministério Público Federal não
concordava, continha apenas especulações e ilações
preconceituosas e não era minimamente sustentada em provas.
Havia diálogos telefônicos entrecortados por reticências
que não diziam absolutamente nada. Lamentavelmente, até
que todas as acusações fossem rejeitadas e arquivadas e
que o Doutor Macário pudesse ter a sua vida de volta,
passaram-se 17 anos. Este Tribunal errou gravemente com o
Desembargador Macário. Sob qualquer cenário, é
inaceitável o transcurso de 17 anos para que o Judiciário
dê respostas num caso como esse. Somos Juízes. Juízes
são humanos e, como tais, falíveis. Nossos erros causam
danos que são difíceis de reparar. Mas é
importante que este Tribunal reconheça isso publicamente,
afirme isso publicamente. Evidentemente que
tal dano é irreparável. Ficar 17 anos privado do
exercício da profissão que escolheu, exposto, tendo sua
honra atacada, é uma situação de profunda
violência, que o Doutor Macário enfrentou com coragem e
altivez. É importante ressaltar, inclusive – o Doutor
Marcelo já falou disso aqui –, que seu pai faleceu antes
que Macário tivesse sua reputação restabelecida
e as medidas adotadas contra ele, que o vitimaram por todos esses
anos, revertidas. O Desembargador Macário é rodeado de
amores, afetos familiares, amizades, pessoas que o conhecem bem e que
nunca colocaram em dúvida sua probidade – e hoje tivemos
aqui o testemunho tão emocionado do Professor Marcelo Abelha.
Evidentemente, vem daí a sua força e serenidade. Nosso
querido Desembargador Ricardo Regueira – e hoje tenho o prazer
de mencionar, de referir-me e prestar homenagem ao Ricardo na
presença da sua esposa Doutora Lana Regueira e da sua filha
Sofia Regueira –, que também foi acusado da prática
de crimes e que faleceu precocemente, costumava dizer: “Eu sei
quem eu sou. Não perco minha identidade em razão do que
falam de mim”. Mas, ainda que se possa reconhecer essa força
interna no Desembargador Macário, o dano é irreparável.
E é por isso que considero fundamental afirmar neste momento
festivo que a reparação histórica começa
pelo resgate da verdade e da memória. Esse é o caminho
para a realização da Justiça. Nós
erramos, nós devemos desculpas ao Desembargador Macário.
Nós, Juízes de carreira, que detemos larga experiência
na jurisdição de Primeiro Grau e que sabemos como
ficamos expostos e devemos ser preservados no exercício da
jurisdição, devemos resgatar a verdade dos fatos para
que não se repita. Este Tribunal deve pedir desculpas ao
Desembargador Macário pela falha na prestação da
justiça e pela injustiça perpetrada contra ele. Eu sou
uma pessoa de muita sorte, porque tive a oportunidade de integrar
órgãos colegiados aqui no Tribunal com muitos Juízes
excepcionais como o Doutor Messod Azulay, o Doutor Paulo Cesar
Espírito Santo e o Doutor Ivan Athié. Especialmente a
aposentadoria do Desembargador Ivan Athié, que também
está presente hoje, me entristeceu enormemente dada a
afinidade de pensamento, a admiração e o afeto que
nutro por ele. Mas sou uma pessoa de sorte. Quis o destino que o
Desembargador Macário finalmente retornasse à
jurisdição e ocupasse o gabinete do Desembargador
Athié. E que Juiz excepcional é Macário Ramos
Júdice Neto! Seus votos são muito técnicos, ele
é muito sensível e consegue se conectar com a situação
vivenciada pelas partes, especialmente as pessoas que litigam contra
o Estado. Macário é um Juiz muito comprometido, ele tem
esta qualidade essencial para o exercício da jurisdição:
a empatia. Ele se coloca no lugar do outro. Ele é muito
atencioso conosco, com os demais integrantes da Turma, superatento à
dinâmica do julgamento, concordando ou divergindo, sempre
agrega alguma opinião interessante ao debate. Ele é
também um Juiz extremamente equilibrado e ponderado. Ele
exerce a escuta, atende as partes com absoluta gentileza. Na 1ª
Turma Especializada, em que atuamos hoje eu, nosso homenageado, a
Desembargadora Federal Andréa Esmeraldo e o Juiz Federal
Convocado Rogério Tobias de Carvalho, o ambiente é
absolutamente propício ao diálogo respeitoso, entre nós
Juízes e também entre os Juízes e as partes. A
solução justa no processo é construída
dialeticamente, surge do debate respeitoso e afetuoso, do cotejo das
razões apresentadas por escrito e oralmente na sessão.
Esse debate rico, inclusive oral, tem ocorrido nas sessões de
nossa Turma, e isso é um presente. É extremamente
prazeroso integrar hoje a 1ª Turma Especializada com valorosos
Colegas. É uma sorte termos entre nós, finalmente, no
auge da sua capacidade intelectual e no pleno exercício de sua
independência funcional e sensibilidade, o Desembargador
Federal Macário Ramos Júdice Neto. E eu acrescento:
coragem, competência e sensibilidade. Seja bem-vindo,
Desembargador Macário! Desejo que os próximos anos
neste Tribunal sejam extremamente profícuos, respeitosos e
fraternos e que possamos cumprir o nosso papel e sermos dignos de
nossa função. Muito obrigada. SR.
CERIMONIALISTA: O
Excelentíssimo Desembargador Federal Júdice Neto fará
uso da palavra. O EXMO.
DESEMBARGADOR FEDERAL JÚDICE NETO: Boa
tarde a todos e a todas! Eu trouxe aqui o lencinho, porque é
muita emoção. Se eu não enfartar hoje, acho que
terei longos e longos anos de vida. Este plenário cheio está
muito bonito.
Senhor Presidente, muito obrigado
por permitir esta sessão solene. Cumprimento o Senhor
Presidente, o Desembargador Federal Guilherme Calmon Nogueira da
Gama, e, na sua pessoa, também o faço em relação
a todos os eminentes Pares que integram este honrado colegiado, que
aqui se encontram ou acompanham esta sessão solene. Olho para
cada um dos senhores e agradeço-lhes por me receberem tão
bem. Muito obrigado! Cumprimento o Excelentíssimo Senhor
Ministro do Superior Tribunal de Justiça Doutor Messod Azulay
Neto, a quem eu devo um “muito obrigado” público
por me compreender e por ter uma visão de justiça
ampla. Cumprimento igualmente o Desembargador Federal Presidente do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o Doutor Fernando
Quadros. Cumprimento o Excelentíssimo Senhor Conselheiro do
Conselho Nacional de Justiça, o Doutor Luiz Fernando Bandeira
de Mello. Cumprimento os Excelentíssimos Governadores do
Estado do Rio de Janeiro e do Estado do Espírito Santo, o
Doutor Cláudio Castro e o Doutor Renato Casagrande.
Cumprimento o Doutor Artur Gueiros, Procurador-Chefe da Procuradoria
Regional da República da 2ª Região. Muito obrigado
por suas palavras, Doutor Artur. Não sei se as mereço.
Cumprimento igualmente os Presidentes das Seccionais da Ordem dos
Advogados do Brasil, o Doutor Luciano Bandeira e o Doutor José
Carlos Rizk
Filho. Cumprimento meu grande amigo, o Doutor Ricardo Ferraço,
Vice-Governador do Estado do Espírito Santo, que está
aqui presente, amigo de infância. Parabéns pelo seu
aniversário! Que Deus o proveja de muita luz, muita saúde,
muito sucesso! Cumprimento o Doutor Tyago Hoffmann, aqui presente
representando a Assembleia Legislativa do Estado do Espírito
Santo na pessoa do seu Presidente Marcelo Santos. Cumprimento
o meu amigo Doutor Jasson Hibner Amaral, Procurador-Geral do Estado
do Espírito Santo; o Doutor Lívio Ramalho, Corregedor
daquela entidade, tenho a grata satisfação de dizer que
o senhor é muito meu amigo, é um irmão de vida.
Foi meu assessor, e não o deixei cometer o mesmo impropério
que eu para ser Juiz Federal e foi ser Procurador do Estado, muito me
honra a sua presença. Quero também registrar a presença
do Doutor Bruno Teixeira Dubeux, Procurador-Geral do Estado do Rio de
Janeiro. Cumprimento todas as autoridades, Juízes Federais,
Juízes Estaduais, muitos que vieram do Espírito Santo.
Quero cumprimentar os membros do Ministério Público, os
políticos, os deputados, o Deputado Federal de Vitória
– não o estou vendo aqui, mas sei que está
presente. Cumprimento o Vereador Piquet, que está aqui,
Presidente da Câmara de Vitória; Juízes Federais,
meus amigos aqui presentes, registro o Diretor do Foro da Seção
Judiciária do Espírito Santo, o Doutor Rogério
Moreira Alves, que também foi meu estagiário, meu
assessor, Diretor de Secretaria – a ele permiti cometer esse
pecado porque ele seria Auditor da Receita, então falei:
“entre Auditor da Receita e Juiz, você tem que ser Juiz”.
A Doutora Ana Regueira, minha digníssima amiga, com sua filha;
quero citar meu saudoso Ricardo Regueira. Ele mora no meu coração,
aprendi muito com ele, era um grande homem − é um grande
homem, porque ele vive em nós. Senhores, quero fazer uma
homenagem a uma pessoa: o Doutor Antonio Ivan Athié.
Desembargador, o senhor deixa saudade nesta Corte. Vossa Excelência
é de uma elegância, de uma educação, de
uma competência difícil de se ver; a sua humanidade e
sensibilidade. Vossa Excelência não tem ideia dos seus
conselhos valiosos que foram totalmente absorvidos e de como isso foi
importante na minha vida, na minha caminhada, no meu reconstruir
diário. Eu conheço o senhor não como Juiz, mas
como homem, marido, pai, avô, e muito me honra dizer isso aqui
publicamente. Este Tribunal terá muita saudade de Vossa
Excelência. Eu tive a oportunidade, a glória e a sorte
de sucedê-lo no Gabinete 1. Quem diria? É a mão
de Deus, não é acaso! E lá encontrei uma equipe
fantástica, os servidores do Gabinete 1 estão de
parabéns, muito obrigado por me receberem, por ter paciência
comigo. Todos ficaram desconfiados, esse sujeito volta depois de 17
anos e meio, será que ele sabe alguma coisa de Direito? Fui
muito gozado. Enfim, não vim aqui, senhores, falar do meu
passado. Ele está arquivado, ele está lá,
arquivadinho. Vim falar do futuro. E, nesta noite, o que eu falar do
meu passado é apenas para contextualizar um mensagem muito
rica que quero passar para todos os senhores. Antes, porém, de
passar essa mensagem, tenho por dever agradecer as palavras do meu
amigo Marcelo Abelha e da minha amiga Simone Schreiber; vou levar
para a eternidade, muito obrigado por tamanha honestidade. É
isso, uma fala honesta, em tempos de hoje é difícil,
muito difícil encontrar honestidade, encontrar
transparência... Quero também, já que mencionaram
a minha história, história superada, agradecer aos
advogados que “carregaram o meu piano”. Antes de falar
dos advogados, quero fazer uma homenagem ao Desembargador Carreira
Alvim aqui presente. Desembargador, seja muito bem-vindo, o senhor é
muito querido. Que Deus continue abençoando Vossa Excelência
e sua família. Agradeço aos advogados que estiveram
comigo esse tempo todo e tiveram a compaixão de me defender: o
Doutor Nilo Batista; o Doutor André Nascimento; o Doutor
Alberto Pavie; o Doutor Willer Tomaz; o Doutor Fernando Fernandes; o
Doutor Mauro Gomes de Mattos, que não está aqui por
motivo de viagem; o Doutor Tárek Moussalem, não sei se
está aqui; o Doutor Rodrigo Francisco de Paula; o Doutor Marco
Antônio Gama Barreto; o Doutor Ricardo Campos; o Doutor
Fabrício Campos; o Doutor Patrick Berriel; o Doutor Lívio
Ramalho, que muito me ajudou – lembra-se das nossas tardes
sofridas, Doutor Lívio? –; o Doutor Cláudio
Madureira; o Doutor Rafael Drews, que me ajudou muito também;
e o Doutor João Afonso Gaspary Silveira. Senhores,
visualizando este Plenário e seu auditório, vejo-o
repleto de amigos. A vocês todos, o meu muito obrigado por
deixarem suas tarefas para comparecer a esta solenidade em sinal de
prestígio. Feitos os agradecimentos e as respectivas menções,
peço licença, Senhor Presidente, para, já
iniciada esta solenidade, agradecer a Deus por ter me permitido
chegar neste momento e aqui estar, sobretudo com saúde, e com
meu juízo e a minha consciência em perfeito estado, por
ter conseguido preservar o meu sorriso e a minha lucidez. Sou um
testemunho do poder do Senhor e da fé Nele expressada, em
acreditar que o melhor sempre virá, sucedendo as dificuldades
e as angústias, sempre com a disposição de me
alimentar, dia a dia, na fé cristã. Sou um afortunado
por Deus e diante dEle eu me curvo sempre. Muitos aqui ouviram falar
sobre a minha história – ou estória, como
preferirem –, mas poucos de fato conhecem a minha verdadeira
história. Não venho falar dessa, venho apenas
registrar, em nome do meu Deus, a minha gratidão por me
permitir superar tempos difíceis, de extrema angústia e
isolamento, o que me obrigou a dobrar os meus joelhos diante do
Senhor para entregar a Ele a minha vida. Faço isso com e em
devoção e, hoje, resignado, tenho a obrigação
de testemunhar a todos vocês um progresso espiritual que haverá
de me acompanhar até os meus últimos dias nesta vida. A
vida terrena não é só de sofrimentos e
angústias, Excelências, ela oferece também
alegrias e satisfações, que serão tanto maiores
e mais frequentes quanto mais forte for a nossa linha de equilíbrio.
Hoje, exibo a alegria de aqui estar em perfeito equilíbrio.
Após agradecer a Deus, tenho por dever agradecer à
minha família, em especial aos meus pais Fernando e Ana Rita.
A eles, todo o meu amor eterno. Meu pai, Fernando, não está
mais aqui entre nós, mas, de onde se encontra, ele nos abençoa
diariamente. Ele merecia sim estar aqui, penso eu, mas, por desígnio
divino e destino da própria vida, subiu aos céus e de
lá está a me proteger certamente; nisso eu acredito.
Ele foi o meu porto seguro por toda a vida, especialmente nos últimos
17 anos e meio. Ficam as lembranças maravilhosas, os exemplos
ministrados que me proporcionaram forças para seguir adiante e
aqui chegar. Ele, Fernando Júdice, é o maior exemplo de
uma paternidade firme, reta, amorosa, solidária. Nunca, por um
só segundo, abandonou-me ou duvidou do seu filho. O seu olhar
sempre me descortinou, pois sabia exatamente quem eu era. Ao meu pai,
toda honra e toda glória. Uma dádiva poder honrá-lo.
Todos os filhos têm o dever de honrar os seus pais. Eu gostaria
de fazer uma homenagem especial à minha genitora Ana Rita,
aqui presente. Peço à Corte e aos meus convidados
licença para quebrar o protocolo e vou pedir à minha
mãe que se levante para que todos possam ver e observar quão
afortunado eu sou em ter uma mãe viva, linda, saudável
e lúcida. Aos seus 81 anos, não deixa de fazer suas
orações diariamente em prol de seus filhos e
familiares. Nela há um quid
angelical de espiritualidade indulgente, pois é um exemplo
vivo de fé cristã. Obrigado, mãe, pelo seu amor
incondicional, pela sua fé radiante, sua intensa catequese
traduzida em verdadeira homilia pedagógica para todas as
horas, boas e ruins. Tal qual meu pai, sempre a honrarei. Agradeço
às minhas filhas, Carolina e Fernanda, por terem suportado
anos e anos de incertezas sem que, por um único momento
sequer, tenham me cobrado um destino diferente do que tivemos e por
sempre terem acreditado no seu pai, este que vos fala. Vocês
duas são o meu maior amor e o meu maior patrimônio.
Acreditem, a minha perseverança tinha em vocês duas
minha fonte de inspiração e energia para seguir em
frente e poder superar todos os desafios, mostrar a vocês duas
que a vida, apesar das tribulações, vale a pena, que o
bem vence o mal, que Deus está acima de tudo e de todos, que o
amor deve prevalecer e é capaz de curar todas as feridas. É
bom que se diga, nesta oportunidade, que ninguém, nem mesmo
seu pai aqui, sofreu mais do que vocês duas, ainda meninas,
quando o destino nos surpresou. Hoje, já mulheres formadas,
decotam o passado e, ao meu lado, rumamos a um futuro melhor. Não
posso deixar de agradecer à minha esposa, Flávia
Júdice, meu amor, que conviveu diariamente com as oscilações
próprias de uma fase dificílima hoje superada e no
passado arquivada. Você foi meu suporte e minha coluna, meus
olhos a me guiar em momentos anuviados. Obrigado pelo seu amor, e
pretendo sempre correspondê-lo com meu amor maior. Não
sei se, no seu lugar, teria me suportado em tantos desencontros e
dias de tantas sombras, mas superamos o passado e foram tantas as
nossas lições que hoje podemos desfrutar da nossa
sabedoria para alimentar diariamente nosso relacionamento. Que Deus
continue nos iluminando. Agradeço a meus irmãos
Luciana, Tatiana, Rodrigo, e a meus cunhados, Rodrigo e Mauro, por
terem caminhado ao meu lado por todos esses anos e pelos conselhos de
superação. Meus irmãos, eu amo vocês. Aos
meus tios, muitos aqui presentes, agradeço vosso amor, vossa
amizade, vosso amparo nos sofrimentos dificílimos vivenciados,
repita-se, já arquivados. Vocês sempre estiveram ao meu
lado, por isso posso dizer que tenho uma família maravilhosa.
Oh! Deus, como sou abençoado! Após o segundo introito,
digo a todos que este Tribunal é abençoado, pois
abrange dois Estados, Rio de Janeiro e Espírito Santo,
obedecendo a uma divisão federativa e judiciária, e não
federativa e política. O Tribunal Regional Federal da 2ª
Região também é o Tribunal Federal do Estado do
Espírito Santo, portanto, apesar de sua sede ser no Estado do
Rio de Janeiro, devemos nunca nos esquecer de que o Espírito
Santo precisa de nossa atenção e estima. Ambos são
estados territorialmente muito parecidos. Em verdade, estados irmãos
cujo povo pacato e trabalhador muito contribuiu e contribui para o
desenvolvimento deste País. Para se ter uma ideia, os
capixabas, em sua grande maioria, torcem para os times de futebol
cariocas. Eu sou flamenguista, não é, Doutor Theophilo?
Somos. Historicamente, os capixabas sempre se inspiraram na cultura
carioca, diante da sua imensa influência. Enfim, cuida-se de
Estados que possuem mais convergência do que divergências
culturais, econômicas, políticas e geográficas. O
Espírito Santo espera deste Tribunal toda a sua atenção
e respeito. Lá, atuam Juízes Federais de extrema
competência técnica e senso de justiça,
elogiáveis em suas decisões diárias. Em resumo,
o Estado do Espírito Santo, ao lado do Estado do Rio de
Janeiro, agiganta este Tribunal Regional Federal da 2a Região.
Registro que sou um capixaba nascido na cidade de Cachoeiro de
Itapemirim, capital secreta do mundo, filho, neto, sobrinho e irmão
de advogados, e, ao vir ao mundo, fui agraciado com o nome do meu
avô, pessoa com a qual tive a felicidade de iniciar, ainda
muito jovem, na advocacia. Exibia feliz, naquela época, com
orgulho, a carteira de estagiário inscrito na Seccional da OAB
do Espírito Santo, lançando, sempre orgulhoso, a minha
assinatura nas petições, ao lado do meu avô, nas
demandas agrárias, possessórias e em inventários.
Do meu avô, tentei absorver a sua elegância – um
homem elegante, com seus ternos de linho –, educação
e firmeza. Ele era um advogado pacato, reservado e austero, conhecido
e respeitado, de poucas e precisas palavras. Conhecido em Cachoeiro
como “Macarinho”, apelido que tomei de empréstimo,
pois assim me chamava minha avó paterna Gilka. Ela só
me chamava de “Macarinho”. A inscrição do
velho e saudoso avô Macário nos quadros da Seccional,
Senhor Presidente, era de número 36, um precursor da advocacia
capixaba. Sempre foi uma referência de advogado, um grande
fazendeiro, desde o seu pai, também conhecido por Macário
Júdice, mas originariamente Macário Filomeno Luigi
Giudice, imigrante italiano do final do século XIX. A minha
convivência com meu avô paterno é rica de bons
momentos, pois me desprendia, às quintas-feiras, para
Cachoeiro de Itapemirim, quando as aulas da faculdade me permitiam,
para percorrer, com ele, os fóruns do interior. Tive, também,
avós maternos: Seu Orlando Faria Marques e Dona Carlinda Aarão
Marques, pais de 11 filhos, e deles nasceu a minha amada mãe.
Meu avô Orlando teve uma enorme participação na
minha adolescência e início de juventude, pois,
diariamente, levava e buscava a mim e minhas irmãs ao colégio
Sagrado Coração de Maria e, ainda, adorava nos levar
para as baladas. Quantos carnavais o meu avô nos levou entre os
15 e 16 anos e ficava até de manhã? Onde ele estiver,
que nos abençoe. A minha avó Carlinda, uma devota de
Nossa Senhora, mulher de fé inabalável, sempre nos dava
seus maravilhosos conselhos e, mesmo diante das dificuldades, tudo
estava perfeito, e tal qual Cândido, o Otimista, personagem de
Voltaire, tudo sempre era o melhor possível para a minha avó.
Em resumo, essa é minha árvore genealógica mais
próxima, um misto de italianos, portugueses e libaneses. Falo
um pouco da minha formação acadêmica: formei-me
na Universidade Federal do Espírito Santo, em 1988-1, em uma
turma abençoada de grandes talentos, incrível, e acho
que não tem exceção nessa turma, pois todos
notáveis Advogados, Juízes, Promotores e Advogados
Públicos.” Tive a grata oportunidade de, ainda
estagiário, advogar com o meu pai. Falar de Fernando Júdice
para quem não o conhece, era uma pessoa ímpar. O meu
pai era fantástico! Eu não conhecia advogado mais
hábil, mais reto, de uma escrita e de uma oratória que,
senhores, os Tribunais tremiam ao ouvi-lo, porque ele era muito bom
no que fazia. E tive essa grata satisfação de
peticionar... Lembro-me de que o meu pai me colocava na máquina
IBM, Olivetti – não havia computador – e ditava
todas as peças sem rascunho. Ele concorreu ao Quinto da
Advocacia neste Tribunal em 1998. Foi o mais votado da lista, mas, na
época, o nomeado foi o nosso querido e grande amigo
Desembargador Pizzolante, que já nos deixou. Tendo bebido
desse saber paterno, lancei-me, nos idos de 1989, ao desafio de me
submeter à prova de ingresso no mestrado da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e logrei êxito.
Lá estudei. Eu poderia dizer vários professores, mas
vou dizer quatro deles que foram determinantes na minha formação
acadêmica: Professor Donaldo
Armelin
– nem todos o conhecem, mas nunca vi uma genialidade igual –,
Professor José Manoel de Arruda Alvim Neto, com o qual tive a
honra de trabalhar por um ano e meio revendo suas obras, Professora
Tereza Alvim – mãe –, Professora Tereza Alvim
Wambier – filha – e Professor Nelson Nery Júnior,
que é meu amigo pessoal, e a sua esposa Rosa Nery.
Esses nomes são apenas exemplificativos, com os quais tive
profunda convivência, o que, aliás, possibilitou-me, já
tendo retornado ao Espírito Santo, criar e formatar o
Instituto Abreu Júdice, que foi responsável pela
formação de dezenas de advogados, juízes e
promotores Eu consegui levar para o Espírito Santo o primeiro
curso de pós-graduação latu
senso da PUC feito com
a iniciativa privada.
Enfim, ingressei na Magistratura em 1993, há 30 anos. Toda a
minha turma está neste Tribunal. Presidente, Vossa Excelência
é da minha Turma. Os que não estão aqui já
se aposentaram. Eu sou o último da minha turma a chegar aqui,
mas não fui o último colocado.
Fui por longos anos o único Juiz Substituto no Espírito
Santo, ao lado dos cinco Juízes titulares que lá
exerciam a sua jurisdição: Doutor Ivan Athié,
Doutor Antonio Cruz Neto – que já se aposentou; um homem
de grande caráter –, Doutor Luiz Antonio Soares –
meu querido Colega –, Doutor José Ferreira Neves Neto e
Doutora Virgínia Procópio – que já se
aposentou –. Cheguei menino, com 27 anos. Fui maravilhosamente
bem recebido por todos, com muito carinho e respeito. Percorri em
auxílio todas as cinco Varas, convivendo intensamente com os
colegas, dos quais tive a grande oportunidade de haurir seus vastos
conhecimentos e experiência. Fui titularizado em 1998 na 31ª
Vara Federal do Rio de Janeiro. Por uma conveniência minha e do
Tribunal, permaneci em auxílio no Espírito Santo, em
virtude da necessidade de serviço. Até que vaga a 3ª
Vara Federal de Vitória com a ascensão do Doutor Cruz
Netto a este Tribunal. Peço minha remoção. Fui
Diretor do Foro da Seção Judiciária do Espírito
Santo entre abril de 1999 e abril de 2001. Integrei o TRE do Espírito
Santo entre 2000 e 2002 por indicação deste Tribunal,
mas, até aqui chegar, todos sabem que fiquei distante das
minhas funções por 17 anos e meio e, por isso, pode-se
dizer que chego tarde, mas não concordo. Chego na hora certa,
na hora em que Deus quis que eu chegasse. O Senhor quis me preparar
para essa nova etapa, elevando a minha espiritualidade, abrandando os
meus ímpetos e equilibrando os meus humores. Hoje, mais
maduro, compreensivo, observador e menos inocente para os novos
desafios, eis-me aqui. Registro a todos que não me envergonho
da minha história, nem por um minuto, um segundo. Dela tenho
imenso orgulho. Nunca me curvei às dificuldades do período
e também não me vitimizei, procurei continuar
estudando, voltei à docência depois de um curto
distanciamento, porque, segundo o meu psicanalista, eu tinha brigado
com o Direito e precisava fazer as pazes. E a única forma de
fazer as pazes com o Direito era voltar a lecionar. Obedeci e fui
feliz. Enfim, pacientei-me dia a dia na busca de uma reconstrução
também diária. O sofrimento fez-me mais aberto a ouvir
os anseios de justiça na certeza de que continuarei a
praticá-los, até porque direito e justiça hão
e haverão de andar juntos. Se, por um lado, o tempo de
afastamento causou-me angústia e dor, por outro – repito
–, foi providencial para os meus estudos, para construções
teóricas mais amadurecidas, com reflexo positivo nas aulas do
curso de mestrado na Universidade Federal do Espírito Santo,
como professor convidado, ao lado do grande Professor Augusto
Passamani Bufulin. Nesse flagelo ou exílio, inspirei-me em
grandes personagens, tais como: Martin Luther King Jr., nas suas
“Cartas na Prisão”, quando custodiado em
Birmingham Jail; Fiódor Dostoiévski, em “Memórias
das Casas dos Mortos”, enquanto exilado na Sibéria;
Pablo Neruda, na sua coleção de poemas épicos,
escritos durante seu exílio no Chile; Jean Cocteau, no romance
“Morte ao Pai”, escrito quando em cativeiro durante a
ocupação nazista na França, e Graciliano Ramos,
em “Memórias do Cárcere”. Todos esses
escritores resistiram ao caos, ao isolamento, ao exílio social
e profissional e, ao cabo, deixaram um exemplo inefável de
suas vitórias pessoais no sentido de deixar como exemplo a
resiliência, como capacidade de adaptar-se às
adversidades mediante a força do seu eu interior. Desde já,
rogo a todos os meus eminentes Pares e servidores deste Tribunal
paciência para comigo, ainda me adaptando, tímido nas
minhas colocações, mas, com o tempo, concluirão
que sou um bom colega, apto para ser um bom amigo e, segundo alguns,
destaco-me pela lealdade e também pelo coração
gigante e generoso, o que me rende, dos mais chegados, várias
advertências para diluir essa generosidade que carrego, muitas
vezes perigosa nesse mundo recheado de índoles duvidosas, que
se aproveitam de um bom coração. Mas, ao cabo, sou um
cidadão submisso às regras jurídicas e morais,
defensor incontestável do estado de direito. Feitos todos
esses registros, peço licença para contextualizar meu
passado, mirando o futuro. Minha história é rica de
aprendizados e de registros fáticos; por isso, acho
interessante, sem falar especificamente no passado, contextualizá-lo
por um bom viés filosófico, porque, ao final, creio
seja interessante a mensagem que eu procurarei transmitir, como já
mencionei. Nessa perspectiva, valho-me do “Mito da Caverna”
de Platão. O “Mito da Caverna” é uma
metáfora criada, uma história narrada com a finalidade
de explicar a condição de ignorância em que vivem
os seres humanos, aprisionados pelos sentidos e pelos preconceitos
que os impedem de alcançar o conhecimento da verdade.
Sintetiza o dualismo platônico, por exemplo, a relação
entre os conceitos de escuridão e ignorância, luz e
conhecimento e, principalmente, a distinção entre
aparência e realidade. Cuida-se de uma alegoria extraída
da obra “A República” do citado filósofo,
que trata do conhecimento verdadeiro e, também, dos atos de
governança, atos políticos do detentor do poder. Nesse
contexto, trazendo para o mundo real o Poder Judiciário, que
nós representamos, e, enquanto Poder, permite ser inserido
nessa contextualização sim, e é o que eu
procurarei fazer. No “Mito da Caverna”, descreve Platão
um diálogo entre Sócrates, seu grande mestre, e Glauco;
foi uma forma que Platão encontrou de imortalizar Sócrates,
que, segundo dizem, era analfabeto, mas um grande orador. Sócrates
propõe a Glauco imaginar a existência de uma caverna
subterrânea onde exista uma descida abrupta e uma determinada
fogueira e, à frente dessa fogueira, um muro capaz de suprir a
altura de uma pessoa mediana; de um lado desse muro, desse tapume,
várias pessoas acorrentadas pelos pés e pescoço,
de forma que ficassem imóveis e não pudessem ver o que
atrás de si se passava e, tampouco, acima, mas apenas a parede
à frente. Ou seja, os prisioneiros tinham, à frente de
si, a parede da caverna, atrás de si, um muro, todos
acorrentados pelos pés e pescoço e, atrás desse
muro, uma fogueira; e atrás desse muro e da fogueira, pessoas
passavam com adereços figurativos e eram projetadas sombras
nessa parede da caverna. À frente dessa fogueira e entre o
muro que separava as pessoas, homens passavam estendendo objetos dos
mais variados, fazendo gestos acima da altura do referido muro, de
modo que as imagens se projetavam na referida parede em sombras.
Essas sombras eram observadas pelos prisioneiros.
Como estavam presos, os
prisioneiros podiam enxergar apenas as sombras das imagens, julgando
ser aquelas projeções da própria realidade, que,
ao final, de maneira distorcida, era todo o conhecimento que os
prisioneiros tinham do mundo. Aquela parede da caverna, aquelas
sombras e os ecos dos sons que as pessoas de cima produziam era o
mundo restrito de prisioneiros; só acreditavam existir aquilo.
Na narrativa do diálogo, uma das pessoas presas nessa caverna
consegue libertar-se das correntes e vai em busca do mundo exterior
e, andando, percebe que havia pessoas e uma fogueira projetando as
sombras que ele julgava ser a totalidade do mundo. A princípio,
a luz do sol e
a diversidade de cores e formas assustaram o prisioneiro e ofuscaram
a sua visão, fazendo-o sentir-se desconfortável e
desamparado diante da dificuldade, de modo a querer voltar à
prisão. No entanto, ele persistiu em descortinar o mundo
exterior e, ao encontrar a saída da caverna, ele se assusta ao
deparar-se com o mundo até então desconhecido. Aos
poucos sua visão acostuma-se com a luz e ele percebe a
infinidade do mundo na natureza que existe lá fora. Ele
percebe que aquelas sombras, que ele julgava ser a realidade, na
verdade, são cópias imperfeitas de uma pequena parcela
da realidade, ao fim uma ficção. Com o tempo, ele
acabou por se admirar com as inúmeras novidades e descobertas.
Assim, tomado por compaixão, decide voltar para a caverna e
compartilhar com os outros prisioneiros todas as informações
sobre o mundo exterior. Porém, os prisioneiros que estavam na
caverna não acreditaram naquilo que o mensageiro contava,
então, o acoimaram de louco. Para evitar que suas ideias
atraíssem outras pessoas para os “perigos da
insanidade”, os prisioneiros mataram o fugitivo. Podemos
resumir que a vida dentro da caverna representa o mundo sensível,
aquele experimentado a partir de sentidos, onde fica a falsa
percepção da realidade, enquanto a saída da
caverna representa a busca pela verdade, o chamado mundo inteligível
alcançado apenas pelo uso da razão. Para
Platão, a
caverna simbolizava o mundo onde os seres humanos vivem. As sombras
projetadas em seu interior representam a falsidade dos sentidos,
enquanto as correntes significam os preconceitos e a opinião
que aprisionam os seres humanos à ignorância e ao senso
comum. Platão pretendeu descrever a importância do senso
crítico e da razão para que os indivíduos possam
se “libertar
das correntes” e
buscar o conhecimento verdadeiro, representado pelo mundo exterior. O
prisioneiro que se liberta das correntes e volta para ajudar seus
iguais significa o papel do filósofo, aquele que tem como
objetivo libertar o máximo de pessoas da ignorância.
Nesse contexto, esse também é o papel dos Juízes,
que devem ter a postura de romper com preconceitos e ser pela busca
da verdade, ao menos a verdade possível, sem destemor e
aversão, desprezando a ignorância em louvor ao saber
epistêmico. O desfecho trágico do prisioneiro que se
liberta é uma referência ao que ocorreu com seu mestre,
Sócrates, que foi morto, acusado de corromper a juventude
ateniense, envenenado por cicuta. Essa metáfora que eu acabo
de representar para todos os senhores, passados 2400 anos, é
atualíssima. O conhecimento para Platão é
elemento primordial para o bom governante e, adaptado para o nosso
momento, tem-se como necessário a todo homem, em especial
àqueles detentores do poder – nós aqui somos
detentores do poder – e que eventualmente encontram-se na
escala de comando. Por isso, no Livro VII de “A República”,
Platão afirma que todos devem ser como o prisioneiro liberto
da caverna e seguir em busca da verdade. O
que quero dizer com isso? Valendo-me dessa metáfora,
trazendo-a para a nossa realidade, digo que o Poder Judiciário
não pode ser uma caverna e nós Magistrados, os
prisioneiros, que atrelados ao princípio da inércia, ao
aguardo da iniciativa das partes e do Ministério Público,
não podemos nos deixar conduzir por sombras projetadas,
irrealidades ou ficções, boatos, preconceitos e
narrativas. Também, nesse contexto, tomo de empréstimo
parte significativa da minha história de vida: 17 anos e meio
durante os quais fui visto e interpretado como sombra projetada na
parede como representação ficta de uma suposta
realidade inexistente, em decorrência da projeção
distorcida de quem detinha o monopólio da falsa verdade, da
imputação e da narrativa. Houve uma cruel desconstrução
da minha imagem,
projetando-se ficções e narrativas irreais mediante
imputações insustentáveis em fatos concretos.
Até que, em um certo dia, alguém se libertou das
amarras, pôde sair da caverna, observar a realidade sem
representações e, assim, concluir pela minha inocência,
e, retornando à caverna, ter logrado êxito de convencer
e demonstrar a realidade nua e crua a ensejar a minha absolvição,
sem que fosse esfacelado ou desfacelado. Ao contrário do
desfecho da caverna, esse alguém que se libertou e conseguiu
enxergar a minha realidade não foi morto ou desprezado, mas,
ao final, seguido para um desfecho justo. Até então,
todos estavam acorrentados dentro de uma caverna vendo assombras e a
ficção de uma irrealidade transformadas em narrativas e
versões surreais – repita-se – por aqueles que
detinham o monopólio da falsa verdade, da imputação
e da narrativa em descontruir a minha imagem, paralisando a minha
vida profissional, cujo tempo passado não me é
suscetível de repristinação. Essa libertação,
ao final, não se restringe apenas a mim, mas a toda esta
Corte, hoje desanuviada daquelas falsas representações.
Hoje há de imperar a luz e a claridade nos pensamentos. Creio
terem sido tempos de grande aprendizado para todos e, de coração,
espero que todo aprendizado seja doravante bem utilizado. Tenho fé
que iniciaremos um novo tempo, de paz, de boa convivência, de
muito diálogo numa Corte bem-aventurada, pois composta por
Magistrados altamente capacitados, cultos, inteligentes e impregnados
de bons propósitos na realização de uma justiça
efetiva ao alcance de todos. O Magistrado que, em sua carreira,
ascende ao tribunal, despede-se da solidão de suas decisões
monocráticas para ocupar lugar qualificado num colegiado e,
assim, contribuir para a construção de uma
jurisprudência íntegra, estável e coerente,
dividindo suas ideias e seus posicionamentos num verdadeiro diálogo
construtivo, sabedor de que nem sempre haverá unanimidade,
pois as divergências são reais e necessárias ao
progresso da ciência do direito, devendo-se, com humildade,
conviver com as diversidades de opinião e pensamento. A
decisão judicial não pode ser encarada como um ato de
mera escolha, ou seja, não pode ser um ato de mera vontade
pautado na subjetividade descompromissada do Magistrado. Há
uma inegável responsabilidade política do Julgador. Há
literatura farta sobre isso, combatendo a discricionariedade
judicial. Aliás, há um grande esforço das
teorias contemporâneas para encontrar modos de controlar as
decisões judiciais que, de jeito algum, podem ser produtos,
exclusivamente, da razão prática. Em se tratando da
decisão judicial, a questão se projeta para além
das experiências imediatas e pessoais do Juiz. Embora a decisão
judicial seja um ato de responsabilidade política, é
claro que o ambiente pré-reflexivo do Magistrado, reservado à
sua intuição ou inconsciente, não pode ser
desprezado ou diminuído em sua importância, como sendo
um dado negativo. Por mais que esse ambiente seja o local onde nos
deparamos com nossos arbítrios e ideologia, é nele,
todavia, que encontramos a pré-compreensão, onde estão
armazenados projetos de sentido autêntico. O que eu quero dizer
com isto? Só compreende adequadamente, interpreta
adequadamente um texto jurídico ou uma realidade quem tem
pré-compreensão adequada do mundo, e essas
pré-compreensões não podem ser arbitrárias,
não podem ser impostas. Há uma alteridade entre essas
pré-compreensões. Por vezes, mudamos as
pré-compreensões, os juízos prévios, para
que possamos concluir bem. Mas, a partir do momento em que fechamos
os olhos para essa realidade e somos arbitrários, os conceitos
prévios deixam de existir e passam a existir os preconceitos
e, certamente, as interpretações serão muito
equivocadas. O Juiz, enquanto intérprete, tem o dever legal e
constitucional de apresentar em sua decisão uma interpretação
que melhor se ajuste ao direito posto, em especial à
Constituição. Variantes outras, como excesso de
trabalho – o que é uma realidade –, podem até
mesmo explicar parte dos problemas que temos de enfrentar, mas não
podem servir de álibis para afastar o dever de fundamentar a
decisão judicial nos exatos limites das leis e da
Constituição. O lugar ocupado pelo Juiz na sociedade
tem a ver com a linguagem do direito. Direito é, antes de
tudo, linguagem. Entender o que é a linguagem e como ela opera
é fundamental para que Juízes profiram decisões
corretas e legítimas. No contexto humano da linguagem, há
fatores que podem influenciar demasiadamente a aplicação
da lei, tais como os elementos conscientes e inconscientes que
determinam todo um conjunto de desvios. Por vezes, o raciocínio
mais lógico sofre um desvio em razão de alguma
determinação inconsciente capaz de levar o magistrado a
uma interpretação pouco precisa, ilegítima e,
sobretudo, injusta. Enfim, devem ser evitados subjetivismos e
solipsismos. Para tanto, não podemos esquecer das lições
de Gadamer, para quem a interpretação inicia-se a
partir dos conceitos prévios que são substituídos
por outros mais adequados. Aliás, todo esse constante
reprojetar que faz o movimento de sentido do compreender e do
interpretar é que constitui o processo descrito por Heidegger.
Toda decisão judicial vale-se da linguagem e, por seu
intermédio, materializa-se. No plano fenomenológico
hermenêutico, a linguagem assume lugar proeminente, de alto
coturno. Por isso, a partir de uma visão haideggeriana e
gadameriana, podemos afirmar que nos situamos no mundo da linguagem e
que não a possuímos, pois é ela, a linguagem,
que nos possui. O mundo da linguagem nos antecede. É
imprescindível que todo magistrado aceite a ideia de que a
nossa condição de ser no mundo está condicionada
pela compreensão que temos dos fenômenos. Nesse passo, o
direito vem a ser um fenômeno linguístico cujas relações
de poder estão condicionadas às possibilidades de nosso
processo de inserção nesse universo hermenêutico
e linguístico. A linguagem determina a compreensão. O
existir já é, por si só, um ato de compreender;
portanto, um “interpretar” determinado pela linguagem.
Mas no campo do direito há uma especificidade importantíssima:
a interpretação de um texto normativo deve estar em
conformidade com um texto de hierarquia e validade superiores: a
Constituição, que, mais do que um simples texto, é
condição de possibilidade hermenêutica de outro
texto. Cuida-se de um fenômeno historicamente construído,
com um pacto social. É exatamente a partir da compreensão
desse fenômeno que estamos hábeis a conferir sentido à
relação entre Constituição-Estado-sociedade.
O sentido que temos da Constituição reflete diretamente
no processo de interpretação dos demais textos
normativos do sistema. Urge que se compreenda que, há muito, a
filosofia da consciência ficou para trás, com o giro
linguístico. O giro linguístico foi o responsável
por uma mudança radical ao questionar se a linguagem cotidiana
seria suficiente para explicar o mundo e a vida real. Essa linguagem
não pode ser apenas aquela decorrente de uma introspecção
do magistrado voltado para seu Eu. Não pode haver espaço
para solipsismo, enquanto um modo particular de agir/decidir, cujos
preceitos se pautam numa única realidade, representada somente
pelo “eu” empírico. Segundo o solipsista, nada há
além do pensamento individual, sendo a percepção
uma impressão sem existência real. Senhores,
o que quero transmitir é que novos tempos virão. Eu
venho com o coração aberto, com muita vontade de
trabalhar, muita vontade de contribuir com este Tribunal, muita
vontade de somar e pertencer a esta Corte. Não basta estar
aqui, tem que sentir, tem que ter sentimento de pertencimento.
Pauto-me pelo estado de direito. Eu não diria que sou um
positivista; sou um legalista. Porque o positivismo, ele é
muito mal encarado, achar que o juiz legalista é positivista.
O positivismo, ao contrário, abre uma moldura de
discricionariedades possíveis para o Magistrado. Essa obra de
Hans Kelsen é muito mal compreendida. Quando ele fala sobre a
Teoria Pura do Direito, pura é a teoria, não o direito.
E ele não tem uma teoria sobre a aplicação e a
interpretação, porque ali ele faz uma cisão
entre direito e ciência jurídica; ele não faz uma
diferenciação, ele não tira a moral do campo do
direito. Tanto que ele admite que, ao fim e ao cabo, os magistrados
têm um poder enorme de discricionariedade decisiva. E aí
mora o perigo. Como controlar essa liberdade de interpretação
em face dos aspectos semânticos da lei? E aqui venho dizer para
o que vim: vim para tentar trazer luzes a este Tribunal no sentido de
que a liberdade e a discricionariedade do juiz tem limite, e o limite
dele está na própria referência legal, muitas
vezes esquecida e abandonada. Não podemos reescrever a lei,
não podemos editá-la ao argumento dos fundamentos da
nossa decisão; para isso, temos o Parlamento. Vivemos tempos
difíceis que precisam de muita resignação, muita
sabedoria e bom senso para decidir. Senhor Presidente, venho aqui
carregado de boas intenções e quero, mais uma vez,
agradecer a esta Corte, a Vossa Excelência, ao Ministro Messod
Azulay, aos Governadores do Estado do Espírito Santo e do Rio
de Janeiro, ao Doutor Artur Gueiros, que representa o Ministério
Público Federal, ao Conselheiro Bandeira de Mello, ao Doutor
Fernando, Presidente do Tribunal da 4ª Região, e aos meus
eminentes pares. Quero agradecer à minha família e aos
meus amigos: esperem o melhor de mim porque terão. Quero
também fazer o registro de que fui muito bem recebido pela 2ª
Turma quando aqui cheguei. Fui muito bem recebido pelo Desembargador
Marcello Granado, pelo Desembargador Flávio Lucas e pelo
Desembargador Wanderley Dantas. Hoje, integrando a 1ª Turma, só
tenho a agradecer a Deus por estar ao lado da Desembargadora Simone
Schreiber, da Desembargadora Andréa Esmeraldo e do
queridíssimo Juiz Rogério Tobias, que já já
estará entre nós. Será muito bem-vindo, como eu
também fui. Senhoras e senhores, desculpem-me cansá-los.
Agradeço. Desculpem-me pela emoção e pela
honestidade. Por ela, eu primo. Obrigado por estarem aqui. SRA.
CERIMONIALISTA: O
Excelentíssimo Senhor Presidente do Tribunal Regional Federal
da 2ª Região fará uso da palavra e encerrará
esta cerimônia. O
EXMO. SR. PRESIDENTE,
DESEMBARGADOR FEDERAL GUILHERME CALMON:
Boa noite a todos e a todas! Excelentíssimo Ministro Messod
Azulay Neto, do Superior Tribunal de Justiça, na pessoa de
quem cumprimento todos os Magistrados e Magistradas aqui presentes;
Governador Cláudio Castro, Governador do Estado do Rio de
Janeiro, juntamente com o Governador Renato Casagrande, em nome de
quem cumprimento também todos os integrantes do Poder
Executivo Federal, Estadual e Municipal – não só
do Estado do Rio de Janeiro como também do Estado do Espírito
Santo –; Doutor Artur Gueiros, representando a
Procuradoria-Geral da República neste Estado, nesta Região;
Doutor Luiz Fernando Bandeira de Mello, Conselheiro do Conselho
Nacional de Justiça, na pessoa de quem também
cumprimento todos os Conselheiros do Conselho Nacional de Justiça;
meu dileto amigo Desembargador Fernando Quadros da Silva, Presidente
do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, representando
todos os Magistrados das outras Regiões. Para não me
alongar, eu queria me dirigir especialmente a todos os Colegas que
integram este Tribunal, aos Desembargadores aqui presentes, aos
Desembargadores que estão à distância, não
só aos que estão na atividade, mas também
àqueles que estão aqui prestigiando esta cerimônia.
Finalmente, quero me dirigir, a todos os presentes, ao representante
da Ordem dos Advogados do Brasil Doutor Luciano Bandeira, ao Doutor
José Rizki, representando ambas as Seccionais da OAB nesta
Região, Rio de Janeiro e Espírito Santo, aos familiares
do nosso Desembargador Macário e também ao próprio
Desembargador Macário, hoje o grande homenageado desta
cerimônia. Já são 18h17, já se vão
mais de duas horas do início da cerimônia, uma cerimônia
que, de fato, é marcante não só pelo conteúdo
dela, mas, especialmente, pelo simbolismo que ela apresenta em
relação a tudo que foi tratado aqui, Doutor Marcelo
Abelha, Desembargadora Simone, Doutor Artur Gueiros e também o
homenageado Desembargador Júdice Neto. A mim, como Presidente
do Tribunal, cabe desejar ao novo Desembargador todo o sucesso nessa
nova empreitada. Tenho certeza de que vossa fala nesta ocasião
é bastante representativa daquilo que toda a Corte, e mais do
que a Corte, toda a Justiça Federal da 2ª Região
espera da atuação de Vossa Excelência durante
todo o período que terá aqui neste Tribunal. Tenho
certeza de que, com essa mensagem, com esse simbolismo que foi bem
apresentado aqui por todos que tiveram oportunidade de se manifestar,
a Justiça Federal da 2ª Região sai engrandecida e,
cada vez mais, teremos oportunidade de ter momentos como este de
tanto simbolismo, tanta importância e tanta realização
daquilo que se espera de uma Casa da Justiça, que é a
realização da Justiça aplicando o direito como
tem que ser. Dito isso, declaro encerrada esta cerimônia,
agradecendo a presença de todos e todas, e devolvo a palavra
ao nosso cerimonial. Nada
mais havendo, foi encerrada a sessão, às dezoito horas
e vinte minutos. Eu, Dely Barbosa Derze, Diretora da Secretaria do
Tribunal Pleno, Órgão Especial e Seções
Especializadas, lavrei a presente Ata, que vai assinada pelo Exmo.
Sr. Presidente.
Desembargador
Federal Guilherme Calmon
Presidente
Este documento é parte do caderno administrativo do TRF do diário publicado em 14/11/2023. O caderno do diário eletrônico é assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por MARIA ALICE GONZALEZ RODRIGUEZ:10382, Nº de Série do Certificado 1287503996015469073, em 13/11/2023 às 13:55:57.